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Ordenação heráldica do brasão e bandeira

Publicada no Diário do Governo, I Série de 29/08/1941

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Armas - De azul com uma estrela de seis raios de prata carregada por um rodízio vermelho, realçado a ouro e posto em pala. Em chefe e contrachefe uma faixa ondeada de prata. Coroa mural de cinco torres de prata. Listel branco com os dizeres "Cidade da Covilhã" a negro. Envolvendo o pé e flancos das armas, as insígnias das Ordens de Cristo e do Mérito Industrial, suspensas das fitas, tudo de suas cores.

 

Bandeira - Quarteada de quatro peças de branco e quatro peças de vermelho. Cordões e borlas de prata e de vermelho. Haste e lança douradas.

 

Selo - Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes e em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal Covilhã". Envolvendo o selo, as fitas das Ordens de Cristo e de Mérito Industrial, suspendendo as respectivas insígnias.

 

Como as principais peças das Armas são a estrela e o rodízio, a bandeira é branca (que representa a prata) e vermelha. Para cortejos e outras cerimónias a bandeira é de seda, bordada e com a área de um metro quadrado. A coroa mural de cinco torres e a bandeira quartejada de oito peças, é o que está determinado para simbolizar as cidades.

             

O campo das Armas da Covilhã é de há muitos anos esmaltado de azul, cor que heraldicamente significa zelo, caridade e lealdade.

 

A estrela e os rios são de prata porque este metal na heráldica, denota humildade e riqueza.

           

O rodízio é de vermelho, porque este esmalte significa vitórias, força, energia, actividade e vida. O rodízio é realçado a ouro por ser este o metal mais rico na heráldica e que significa nobreza, fé, fidelidade, constância, poder e liberdade.

Com estas peças e com estes esmaltes fica realçada e dignificada a história da Covilhã e a índole dos seus naturais.

 

Freguesias

 

O Concelho da Covilhã é constituído por 31 freguesias: Aldeia de São Francisco de Assis,   Aldeia do Souto,   Barco, Boidobra,    Canhoso,    Cantar-Galo, Casegas, Conceição, Cortes do Meio, Coutada, Dominguizo, Erada, Ferro, Orjais, Ourondo, Paul, Peraboa, Peso, Santa Maria, São Jorge da Beira, São Martinho, São Pedro, Sarzedo, Sobral de São Miguel, Teixoso, Tortozendo, Unhais da Serra, Vale Formoso, Verdelhos, Vales do Rio, Vila do Carvalho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Video elaborado por José Pereira Santos in

https://www.facebook.com/Mem%C3%B3rias-da-Covilh%C3%A3-267737363560243/videos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bandeira para uso no exterior (2x3)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bandeira para uso em interiores (1x1)

 

 

A Covilhã é uma bela cidade, situada num planalto, a meia encosta de Serra da Estrela. Daí lhe vem o nome, de Cova + lhana ( plana ). Parece que foi fundada pelos Romanos 41 a.C. e estes puseram-lhe o nome de Sila Hermínia.

 

È atravessada pelas correntes rápidas das ribeiras da Carpinteira e da Degoldra, em cujas margens se estabeleceram as primeiras fábricas de lanifícios, pois é grande a abundância de gado lanígero.

 

Covilhã teve foral antigo dado por D. Sancho I em Setembro de 1186, confirmado, posteriormente, em Coimbra por D. Afonso II, no mês de Outubro de 1217.

 

Deve-se à clara política de D. Sancho I a reedificações de vila que estava prestes a ser abandonada pelos seus moradores. No ano da concessão do foral em 1186, os habitantes receberam honrarias régias, entre elas destacando-se o privilégio dos escravos ganharem alforria e habilitações para honras e empregos quando por mais de um ano vivido na Covilhã.

 

Na provisão de 2 de Dezembro de 1253, D. Afonso III declara ser a Covilhã uma das principais povoações acasteladas da Beira. Atribuiu-se a fundação ao célebre Conde D. Julião que, para se vingar de D. Rodrigo – o último rei dos Gagos, lhe ter seduzido a filha, provocou a invasão dos Árabes na Península Hispânica. Conta a tradição que na Covilhã derivado da Cova - Juliana, nome que D. Julião dera à vila reunindo num só, o seu nome e o da sua concubina ( mulher ; legítima ).

        

Em 1 de Junho de 1510, D. Manuel I outorgou-lhe foral novo, em Santarém.

        

Foi elevada à categoria de cidade no século XIX a 20 de Outubro de 1870, título atribuído por D. Luís I.

O CONCELHO DA COVILHÃ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Covilhã – Concelho

 

Reclinada na encosta da Serra da Estrela, voltada a Nascente, a Covilhã oferece a quem a visita a bela paisagem da sua casaria, enquadrada num majestoso anfiteatro de montanhas.

O Concelho tem uma área de mais de 550 mil hectares e a sua população está estimada em 54 mil 506 habitantes, dos quais 49 mil 527 são eleitores (segundo dados apurados pelo Censos 2001).

 

Covilhã – Cidade

 

A cidade da Covilhã situa-se na vertente oriental da Serra da Estrela a cerca de 700 metros de altitude.

Desde 1851 que é constituída por quatro freguesias urbanas: São Martinho, São Pedro, Santa Maria e Conceição.

 

Covilhã - No Distrito

 

A Covilhã pertence ao distrito de Castelo Branco que é formado por onze concelhos (Covilhã, Belmonte, Fundão, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei e Vila Velha de Rodão), compostos por 159 freguesias.

 

A delimitação geográfica do distrito é feita a Norte pelo distrito da Guarda, a Sul pelo distrito de Portalegre, a Oeste pelos distritos de Santarém, Leiria e Coimbra, a Leste pelas fronteiras com o País vizinho, Espanha.

Geograficamente o distrito é caracterizado pelas várias serras que o atravessam, com parte das serras da Estrela e da Lousã e com as serras da Gardunha, Malcata, Alvelos e Muradal.

 

Nos seus vales correm os Rios Erges, Ponsul, Ocreza e o Zêzere, afluentes da margem direita do Rio Tejo, o qual delimita o distrito a sul.

 

 

A CULTURA E SEUS NOTÁVEIS

 

 

No domínio da investigação histórica, sobretudo da história da Covilhã, destacam-se os nomes de Artur de Moura Quintela, que publicou no ano de 1899, os "Subsídios para a Monografia da Covilhã", e o Dr. Luís Fernando de Carvalho Dias (1914/1991) formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Dedicou-se à investigação histórica, coligindo, na Torre do Tombo, numerosos documentos relativos à história dos lanifícios, do que resultou a publicação, em três volumes, da "História dos Lanifícios", versando a época de 1750/1834. Publicou ainda "Heitor Pinto - Novas Achegas para a sua Biografia" e "Forais Manuelinos". No âmbito da investigação da histórica local e na defesa do património ainda existente, destacam-se nomes como o Dr. Rui Nunes Proença Delgado, com vários títulos sobre a "História da Covilhã", e José Mendes dos Santos, que fundou aqui a melhor livraria da Cidade, e, além da recente obra "Breve História Cronológica da Covilhã", fez publicar a "Toponímia Covilhanense", repositório de numerosas achegas para a história da Covilhã, escritas por publicistas locais de mérito, como José Vicente Milhano (1913/1995), Vitorino de Almeida Bonina, M. M. Sardinha, Dr. António Crespo de Carvalho, Artur Penha (1904/87), Humberto Correia Morão, Álvaro Morgadinho, e outros.

 

Ainda no domínio da cultura, foi figura de relevo neste século, o Eng.º Ernesto de Campos Melo e Castro (1896/1973). Pertencente à Família Campos Melo, foi, durante trinta e sete anos director da Escola Industrial. Dedicado igualmente à música, foi professor no Conservatório desta cidade, violinista em saraus artísticos e compositor da "Trilogia Camoniana" para canto e piano. Teve também o mérito de recolher e escrever numerosas cantigas típicas da região da Beira Baixa.

 

Embora se façam sentir pelos formosos campos do Zêzere e nas alturas da serra, as harpas eólicas das musas, rareiam por aqui os poetas. Todavia, ainda sobressaem nomes como Celestino David (1880/19529, José Seca Júnior (19101971), José Nepomuceno (1874/1954), natural do Tortosendo, José Soares Pereira da Rocha (1904/1983), natural de Vale Formoso, que deixaram os seus versos dispersos por diversas publicações e jornais. Ernesto de Melo e Castro, filho de Engenheiro do mesmo nome, é autor do livro de poesia experimentalista "Trans (a) parências".

 

LENDA DA COVILHÃ

 

A Cova da Beira está situada no eixo da Guarda - Covilhã - Castelo Branco, fazendo fronteira com Espanha. O seu primeiro nome foi o de Cova Plana, por razões de ordem morfológica. "Cova" porque está enclausurada entre serras altas, nas abas das Serra da Estrela, Serra da Gata, Serra da Malcata, Serra da Gardunha. "Plana" porque se trata de um espaço onde se erguem aqui e além pequenos montes ou mamelões que, vistos do cimo de qualquer uma das serras que a envolvem, se diluem na paisagem, parecendo tratar-se de uma planície entre montanhas onde brilham as águas.

 

Após a invasão e conquista da Península Ibérica pelos romanos é que aconteceu surgirem os vários nomes (Cova Julia e Silia Herminia) a que as lendas deram notoriedade.

 

Os generais romanos, por razões estratégicas davam os seus nomes às regiões por onde passavam e sobretudo onde assentavam arraiais. Temos assim a Cova Plana a mudar de nome para Cova Julia, antes de Cristo, devido ao facto de ser Júlio César o general, comandante das legiões romanas, na Península Ibérica.

Em 41 depois de Cristo, há uma outra alteração. O nome de Cova Julia desaparece e a região passa a ser conhecida como Silia Herminia, devido ao facto de o general romano, que então comandava as legiões romanas, se chamar "Silius", e ter, ali, acampado para dominar os lusitanos.

 

A Covilhã encontra-se situada na vertente oriental da Serra da Estrela a cerca de 700 metros de altitude. Possui uma localização estratégica, confinada entre as ribeiras da Carpinteira e da Degoldra, com excelentes pastos para a criação de gado ovino, condições essenciais para a manufactura de panos. Desde cedo se destacaram na paisagem azenhas, moinhos de pão, tintes e tendas e, posteriormente, fábricas transformando a Covilhã no maior centro da indústria têxtil do País.

 

O topónimo da Covilhã estará relacionado com uma LENDA. Segundo esta, o Conde Julião, governador de Ceuta, teria permitido a passagem dos mouros, por vingança, pelo facto da sua filha, Florinda, se ter enamorado por Rodrigo, o último rei dos Godos. Após a morte deste, numa batalha contra Tariq, esta refugiou-se nos Montes Hermínios e, pela sua astúcia e formosura, mereceu o respeito dos mouros e o nome de Cova. Seria o lugar da Cova Juliana ou Covaliana, donde resulta o nome da Covilhã.

 

Há ainda quem conte que foram as condições em a Covilhã se insere, com zonas de pastagens e refúgio do gado na Serra da Estrela que lhe deram o nome.

 

Inicialmente conhecida como o Covil da Lã, hoje denomina-se Covilhã.

 

 

LENDA DA SERRA DA ESTRELA

 

 

IN "Velhas Lendas" de Maria Antonieta Garcia, Edição Centro Cultural da Beira Interior

 

 

Olhar o céu todas as noites, decifrar linguagens das estrelas, lua, nuvens e ventos era momento de prazer sempre renovado.

 

Quando se está só, as coisas que nos rodeiam ganham outra importância. Temos tempo para elas, entendemo-las, deixamos que entrem connosco na nossa vida. E à noitinha, no veludo negro do céu, via estrelas lindas, lindas que não sabe por que loucura ouvia falar. Aquele barulho e o tremeluzir ritmavam melodias, conversas, confidencias... E os jogos que faziam? Fugiam para um lado e para o outro, escorregavam sabe-se lá para onde, dançavam... Escondiam-se!

 

Era então que o José desdobrava recordações, passeando pelo Largo da sua Infância com acenos de felicidade... E lembrava-se das histórias com estrelas. Todos tínhamos uma no céu, dizia-se. Boa ou má... Ah! Se um dia descobrisse a sua Estrela!!!

 

Noite após noite, procurava um sinal, um sussurro... A Lua olhava-o divertida e aguardava serenamente poder assistir ao encontro de José e da sua Estrela.

 

Era nas noites sem sono que o som da flauta subia mais alto no silêncio.

 

                   O brilho da minha estrela

                   Aquece o negro do céu;

                   Espreito-a pela janela,

                   Marco encontro: ela e eu.

 

                   Sou jovem enamorado

                   À noite mato a saudade,

                   Desce no sopro da Estrela

                   Um sol de Felicidade.

 

- José, sou a tua Estrela! José sou a tua Estrela! - ouviu-se.

Era lá possível! Cantigas, são cantigas! Não queria acreditar! Esfregou os ouvidos, os olhos. E ouviu de novo:

- José, sou a tua Estrela!

E tremeluzia rindo em brilho de poeta e paz. O José teve receio. Beliscou-se até doer para sentir que estava acordado. E estava mesmo... Porque a Estrela continuava:

- Que linda a tua serenata! Diz-me os teus anseios, mas pensa bem, antes de decidires. Traçado o Caminho da Vontade, partiremos juntos, e não voltaremos atrás. Quando quiseres, chama-me! Sou a tua Estrela.

E afastou-se devagarinho.

Prisioneiro daquela voz que lhe oferecia viagens, deixou fugir as ideias para paraísos sumarentos. Abandonou-se a uma loucura saborosa e teceu aventuras que acariciou com o desejo semeado pela espera. Queria partir, conhecer serranias altas, coroadas de branco...

Numa noite luminosa olhou o céu:

- Estrela, minha Estrela. Sou eu que te chamo! Vem comigo!

O cheiro das lareiras da aldeia entranhava-se no ar e bafos tépidos, conhecidos, aconchegavam e prendiam as gentes. Mas o José tinha de seu apenas a solidão e uma vontade que recusava resignação e bolores. Vizinho de um mundo de sonho, partiu com a Estrela mais brilhante. Marcou os caminhos que percorreu com a alegria. Irrequieto e insubmisso, em cada terra, um sonho novo subia-lhe à cabeça e reinventava o gosto de viver. Fascinava-o uma criança, um regato de cantilenas, uma romã aberta... Eram imagens que soldava ao corpo, para construir pilares capazes de exorcizar tristezas, hipocrisias, azedumes.

O José tinha escolhido uma Boa Estrela.

Os anos passaram. Os caminhos da montanha rendilhados de branco estavam próximos. No céu, a Estrela brilhava cada vez mais intensamente. Entrava-lhe todas as noites nas palheiras que lhe serviam de abrigo. Desafiava-o feliz para todos os percursos até ao local do seu encantamento. Do alto da Serra, dominaria horizontes mais largos e maior seria o seu prazer franciscano de se emocionar, admirar e acariciar ternamente o que o rodeava.

- José, sou a tua Estrela! Estamos perto. - confidenciava-lhe.

Flautas mágicas cantavam com o sopro do vento. O José cansava-se, subia... A Estrela à sua frente, corria, corria, corria em fúria de chegar.

- Tão bonita a Serra!

- Tão bonita a Serra! Ecoavam as vozes voando longe, longe, longe.

José mergulhou o olhar nos rumores e espaços marcados por pedras e lagoas, plantas e bichos a quem ouviria histórias... para contar.

Ali ficaria. Com a Estrela sua companheira, Amiga e conselheira, durante uma vida. Esperavam que a noite descesse para as longas conversas e confidências...

Diz-se que o Rei cioso das maravilhas do seu reino, teve conhecimento desta Amizade. E quis a Estrela. Coleccionador de raridades aspirava possuí-la.

- Dou-te o que pedires. Ofereço-te poder e privilégios que nunca conheceste em troca da tua Estrela.

No rosto do pastor desenhou-se a admiração:

- Não posso dá-la! - elucidou - É a minha Estrela e ficará comigo para sempre. Vossa Majestade pode escolher uma no Céu.

O Rei não acreditava no que ouvia:

- Recusas as riquezas, o bem-estar, poderios? Não sabes o que fazes. Para que te serve uma estrela se não tens mais nada?

- Eu tenho um dom digno de deuses. Conheço meu caminho. Tracei-o com as minhas mãos; povoei a vida com alegrias - e algumas tristezas! - que não posso oferecer, nem trocar, nem esquecer... Fizeram de mim o que sou...

A Estrela ouviu o José. Na noite de veludo brilhou com maior fulgor.

 

Ainda hoje, todas as noites se vê na Serra uma Estrela linda, estranha, diferente de todas as outras. Acompanha o José sempre... ternamente apaixonada pelos pastores e pela Serra a que deu o nome:

         A Serra da Estrela.

 

 

Fátima

 

Manteigas, na Serra da Estrela, é uma vetusta população que já no tempo da romanização possuía uma certa importância. Na época da dominação Muçulmana, teve direito a alcaide ou emir, autoridades que a tradição popularizou sobre designação de reis.

 

A cerca de duas léguas de Manteigas ergue-se o píncaro de Alfátema, o cabeço mais elevado da Serra da Estrela, amiúde revestido de alvo manto de neve. De Alfátema falará a nossa lenda, que se passa nessa época em que o montante cristão não dava descanso ao alfange muçulmano. Os mouros iam perdendo terreno de combate em combate e a perseguição que os cavaleiros cristãos lhes moviam era tão rápida e implacável que lhes revelava impossível pôr a salvo todas as riquezas que tinham acumulado ao longo dos séculos. Assim escondiam os tesouros nos sítios que achavam mais adequados, ocultando-os muitas vezes por artes mágicas, o que levava o povo a dizer que ele estava guardado por mouras encantadas.

 

Conta a lenda que o rei mouro de Manteigas tinha uma filha, chamada Fátima, e que era formosa como uma visão magnífica do paraíso de Alá. Os cristãos das vizinhanças empregavam todos os seus esforços para se apoderar do território do rei, da sua Fátima tão linda e de todas as suas jóias e bens.

 

Ainda quis resistir, o rei, abrigado como estava dentro do seu castelo. Mas o numero de assaltantes era tal que lhe pareceu loucura ficar e resolveu fugir pelos correios escusos da serra, levando a filha e o que das riquezas ainda não puseram a salvo.

 

Era madrugada quando fugiram de Manteigas por uma pequena porta dissimulada nas muralhas. Andaram, andaram todo o dia por entre penedos e escarpas e, ao anoitecer, Fátima morria de cansaço e não conseguia dar nem mais um passa porque os seus pés estavam em chaga. Que fazer ali no sítio mais solitário da serra?

 

Subitamente, abre-se-lhes em frente o caminho esplêndido, todo ele florido, calçado de pedras finíssimas e iluminado, lá no fundo, por um foco de luz intenso que mais provir de estrela particular. Alá fizera o milagre! A esperança renasceu em todos os corações e, num inesperado alento, entraram na senda que se lhes abrira como se nesse momento tivesse começado a caminhada. Ao fundo da entrada, a luz que havia divisado revelou-se-lhes um palácio resplandecente, tão cheio de magnitude que se quedaram estarrecidos.

 

O que depois se passou ninguém o soube, mas, nos dias imediatos, os serranos viram subir e descer a encosta vários pastores totalmente conhecidos na localidade. Duraram algum tempo aquelas idas e vindas ao Coruto de Alfátema, como chamavam àquele sítio, e um belo dia os pastores desapareceram sem deixar rasto. Os pastores desconhecidos eram mouros disfarçados e foi por indiscrição de um deles que se soube que uma fada boa, madrinha de Fátima, a guardaria no seu palácio encantado do Coruto, sempre jovem e formosa, até ao dia que os fiéis sectários do Corão reconquistassem Portugal.

 

Tão arreigada ficou esta crença no espirito dos serranos que, durante os séculos XII e XIII, as pessoas várias vezes entraram em pânico por acreditarem ver chegar, ao longe, os esquadrões mouriscos em busca da bela Fátima. E a lenda tomou ainda mais corpo no espirito crédulo dos aldeões quando, alguns anos depois dos cristãos terem tomado Manteigas, aconteceu o que vamos contar a seguir.

 

Um dia, uma mulher, das mais miseráveis da localidade, teve de passar na madrugada de S. João no Coruto de Alfátema. Fatigada, sentou-se a descansar num penhasco enquanto ia comendo uma côdea de broa que trazia. O pão era duro de muitos dias e, quando a mal-aventurada ia a dizer mal da sua vida, viu a seu lado um vasto estendal de figos secos. Comeu uns quantos, feliz por poder quebrar inesperadamente a sua pobre dieta e, lembrando-se dos filhos, encheu deles uma cesta que levava.

 

E, rápida e alegre, dirigiu-se à sua choupana, antegozando a alegria das crianças ao comerem os figos, mas, uma vez chegada a casa, ao destapar a cesta, ficou pasmada: no lugar dos figos encontrou diamantes e moedas de ouro, tudo reluzente e novo.

 

Estava rica! Mas a mendiga de há um minuto, conformada com um naco de pão duro sentiu a mordedura da ambição. Não lhe bastando o que já tinha, quis o que ficara no Coruto e voltou a correr ao local onde deixaram os restantes figos.

 

Entretanto, o sol subira no horizonte e estava no meio de um céu sem nuvens. Passara a hora dos encantos e, dos figos, a mulher encontrou apenas o lugar. Desesperada, começou a arrancar os cabelos e ia blasfemar quando uma voz suavíssima – a de Fátima, sem dúvida – caiu sobre si cantando:

 

Era teu tudo o que viste;

Agora tornas-te em vão!

Não passes mais neste sítio

Na manhã de São João.

Não te perdeu a pobreza

Pode matar-te a ambição!

 

 

A Lenda da Lagoa Escura

 

 

Na Lagoa Escura, na Serra da Estrela existe um palácio, onde se guarda a capa de um rei coberta de diamantes e para a feitura da qual foi preciso vender sete cidades. Quem quiser entrar no palácio, tem de fazer com que uma cabra preta atravesse a água, e esperar que o sol esteja a pino para dar numa fisga que é a única entrada. Um aventureiro que lá entrou, nunca saiu.

 

Na Lagoa Escura nenhum pastor da Estrela vai nadar, porque dizem eles que lá no meio os puxam para baixo e que existem lá bichos que comem a gente. Na Lagoa Escura há o palácio de um muro encantado, guardado por um gato selvagem que se desencanta com treze palavras sagradas, ou Oração do Anjo custódio.

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